sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Indústria têxtil vislumbra mudanças

Especialistas do setor têxtil e de confecção acreditam que em apenas 15 anos todo o conceito de uso tradicional do vestuário será modificado e trará profundas alterações para quem atua neste mercado. O novo panorama pode ser avaliado a partir do Plano Estratégico Setorial de Têxtil e Confecção. “As mudanças são tantas que, num breve futuro, pode haver um descolamento do mercado tradicional, com novas tecnologias sendo embarcadas nas roupas. Empresas do ramo eletrônico, por exemplo, poderão ocupar espaço relevante na cadeia produtiva do setor”, prevê Caetano Glavam Ulharuzo, da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e coordenador do Plano Estratégico.

Ulharuzo explica que o estudo está baseado em um panorama que analisa seis dimensões do setor: mercado, talentos, tecnologia, investimento, infraestrutura e político-institucional. Na avaliação das tecnologias para insumos, privilegiou-se o setor de roupas e uniformes profissionais, que é sempre o primeiro a incorporar os avanços tecnológicos que depois serão utilizados nos demais, como as roupas anti-chamas para bombeiros.

As perspectivas reveladas no estudo mostram que o mercado precisa estar pronto para o futuro que se avizinha e no qual as funções das roupas irão além de proteção, conforto e estilo. Veja algumas das possibilidades tecnológicas que poderão ser adotadas pela indústria têxtil:

- liberação de medicamentos durante o uso;
- adequação térmica;
- mudança de cor ao entrar em um local mais claro - e vice-versa;
- controle dos batimentos cardíacos durante a prática de exercícios;
- armazenamento de energia elétrica natural do corpo para alimentação de baterias de tocadores digitais, celulares ou mesmo de leds para segurança de ciclistas;
- repelente de insetos;
- liberação de elementos bactericidas para diminuir o risco de infecção durante operações.

Além disso, haverá o surgimento de novos usos em outras indústrias, como a automobilística que já experimenta o uso de tecido resistente, expansivo e que se adapta a estruturas de metal para substituir a lataria tradicional.

O modo de comprar e vender também será radicalmente alterado, com amplo uso da tecnologia da informação. Compras pela internet, baseadas nos dados antropométricos do cliente, permitirão a venda customizada, direta. “O produtor poderá vender para o mundo inteiro sem precisar de uma loja física”, diz Ulharuzo, vislumbrando um alfaiate eletrônico, cuja preocupação deixará de ser manutenção de estoque e de diversidade de tamanhos e cores para o desenvolvimento da logística de atendimento individualizado e da produção sob demanda.

Desafios

Para chegar a este grau de inovação, o setor têxtil precisa enfrentar os desafios do presente. “Estamos sendo atacados por países de política exportadora por um lado e pelo outro, pressionados pela vanguarda tecnológica dos países desenvolvidos”, afirma Fernando Pimentel, diretor superintendente da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil). 

Segundo ele, o primeiro problema é causado pela agressividade de países como China e Paquistão, que têm custos menores de produção e mão-de-obra. “É preciso investir fortemente em uma educação de qualidade e, ao mesmo tempo, tornar mais barata a contratação de pessoal”, defende. “Não adianta a empresa buscar competitividade se o governo suga os ganhos”.

Para Pimentel, a indústria têxtil, por seu caráter de alta dependência de mão-de-obra, é, também, geradora de renda e, por isso, precisaria de tratamento diferenciado. Reconhecendo as virtudes do modelo tributário do Simples, opção da imensa maioria das empresas do setor, o representante da ABIT alerta para o vício provocado pelo mesmo sistema. “Se a empresa crescer, vai para a seara comum e não consegue sobreviver”, afirma.

Dados do setor

No Brasil*: 

É formado essencialmente por pequenas empresas, com 90% dos estabelecimentos com até 49 empregados. Dessas, 50% empregam até três pessoas. No segmento de confecção de artigos do vestuário e acessórios, empresas com até 49 empregados representam 95% do total, sendo que 70% dessas empregam menos que dez funcionários.- Número de empresas: 30 mil
- Participação: 17,5% do PIB (Produto Interno Bruto) da Indústria de Transformação e cerca de 3,5% do PIB total brasileiro
- Faturamento estimado: US$ 47 bilhões (crescimento de 4% em relação a 2007, quando registrou US$ 41,3 bilhões)- Exportações (sem fibra de algodão): US$ 1,725 bilhão, contra US$ 1,854 bilhão em 2007
- Importações (sem fibra de algodão): US$ 3,776 bilhões, contra US$ 2,883 bilhões em 2007
- Saldo da balança comercial (sem fibra de algodão): US$ 2,050 bilhões negativos, contra US$ 1,029 bilhão negativos em 2007
- Produção média de vestuário: 9,8 bilhões de peças, aumento de 4% quando comparado com 2007
- Trabalhadores: 1,65 milhão de empregados, dos quais 75% são mão-de-obra feminina
- No setor têxtil, 90% dos estabelecimentos possuem até 49 empregados, sendo que 50% desses empregam até três pessoas
- No setor de confecção de artigos do vestuário e acessórios, as empresas com até 49 empregados representam 95% do total, sendo que 70% empregam menos do que dez pessoas
- 2º maior empregador da indústria de transformação
- 2º maior gerador do primeiro emprego
- Consumo anual per capita: 11 kg. A média europeia é de 25 kg e os EUA chegam aos 35 kg
- Brasil é o sexto maior produtor têxtil do mundo
- Brasil é o segundo maior produtor de denim do mundo
- Exportações mundiais de produtos têxteis e de confecção atingiram os US$ 534 bilhões em 2006
- O Brasil exportou US$ 2,3 bilhões em 2007

Fonte: ABIT (dados atualizados em 2009, referentes ao ano de 2008)

Principais exportadores de produtos têxteis e de confecção
PaísValor (em bilhões de US$) Participação (%) 
China 145,5 27,2 
Hong Kong42,58,0
Itália35,96,7
Alemanha30,55,7
Estados Unidos23,74,4
Índia
20,0
3,7
França16,73,1
Turquia16,33,0
Bélgica15,62,9
Coreia do Sul13,32,5
Fontes: Abit/ABDI

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