quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Quanto sua empresa deveria dar de lucro?


Essa é uma pergunta recorrente de empresários, gestores e até executivos financeiros de alto escalão. Como vimos em artigo recente, a essência dos negócios é investir dinheiro hoje para obter mais dinheiro (caixa) maior no futuro. O caixa é rei. 

Mas por que então damos tanto valor à medição do lucro?

Porque o lucro é uma forma de você medir o desempenho econômico do negócio (estamos ganhando dinheiro?, estamos indo bem?) enquanto este está em andamento. O caixa final só vamos ter quando a empresa encerrar suas operações, pagar e receber tudo que tem direito e o que sobrar é o caixa final do empreendimento que compararíamos com investimento inicial feito e o custo de oportunidade.
De um ponto de vista de prático o lucro, bem medido, pode ser considerado uma excelente variável "Proxy"(uma variável estatística que é utilizada no lugar de uma outra de difícil mensuração) do fluxo de caixa de longo prazo da empresa. O lucro é considerado uma medidor eficaz do desempenho da empresa no curto prazo enquanto que o fluxo de caixa faria esse papel de forma mais efetiva para a medição no longo prazo.
lucro
(imagem: Thinkstock)

Para que tenhamos o lucro bem medido, precisamos partir de uma definição de lucro sob um ponto de vista econômico , onde o lucro é o valor residual depois de remunerados todos os recursos consumidos e investidos num empreendimento. Como remuneração, entendemos aqui inclusive a reposição dos ativos consumidos no processo de obtenção de lucro de forma que o ativo da companhia tenha a mesma capacidade de geração de benefícios do início do período.
Importante ressaltar que o "custo de oportunidade" do investimento , não pode ser negligenciado, isto é, ao investir caixa hoje se abstendo do consumo presente, o investidor precisa ter remunerado pelo valor do retorno da alternativa de investimento disponível que ele teria para aplicar. A lógica aqui é simples, para que você investiria na empresa ou num projeto, se você pudesse investir numa alternativa que te oferecesse um retorno semelhante e menor risco?
A dinâmica do Investimento
Ao iniciar uma empresa os acionistas investem seu capital na empresa (patrimônio líquido) e aí esses recursos são investidos em terrenos, máquinas, equipamentos (ativos permanentes) e em ativo circulante (contas a receber, estoques e um pouco de caixa). Parte dos investimentos no ativo, vai ser financiada por terceiros (passivo circulante e a longo-prazo) e estes quando na forma de empréstimos exigem uma remuneração pelo capital emprestado (juros). De outro lado, como já diria Benjamim Franklin, "nada é mais certo neste mundo do que a morte e os impostos", e o lucro gera impostos que têm de ser recolhidos aos cofres do governo.
A quem o lucro remunera?
O lucro deve remunerar todos os fatores, iniciando-se pelo capital dos acionistas. O capital dos acionistas, é remunerado, via dividendos (parcela do lucro distribuído) e a valorização da empresa e de suas ações. Chegamos ao lucro líquido, após o pagamento dos impostos ( Imposto de renda e Contribuição social) , o pagamento dos juros pelos recursos emprestados de terceiros , a remuneração de empregados, aluguéis, serviços e por fim matéria-prima e os recursos variáveis envolvidos na obtenção dos produtos e serviços oferecidos aos clientes. A demonstração de resultado abaixo ilustra os vários tipos de lucro e a remuneração de cada parte.
Vendas
(-) Custo da Mercadoria Vendida
(=) Lucro Bruto
(-) Despesas Operacionais
(=) Lucro Operacional ou (Lucro antes dos juros e Imposto de Renda) EBIT
(-) Juros
(=) Lucro Antes dos Impostos ( EBT)
(-) Imposto de Renda/CS
(=) Lucro Liquido (EAT)
E como se chega ao valor do lucro objetivado?
A mecânica envolve o planejamento da DRE (Demonstração de Resultado) começando pelo fim, isto é pelo valor objetivado de lucro líquido.
Ora o Lucro líquido deve como vimos , deve remunerar o acionista pelo investimento que ele tem na empresa ( Patrimônio Líquido) e esta remuneração tem como base o custo de oportunidade do acionista ( digamos 10% ao ano) e um prêmio de risco por investir na empresa, num segmento econômico e em ultima instância num país onde a empresa e seus clientes estão localizados. Para exemplificar vamos imaginar que o retorno exigido pelo acionista seja de 15% (10% +5%) e que o investimento inicial seja de R$1.000.000,00.
Assim temos que gerar de lucro líquido depois do Imposto de Renda e da Constribuição social ( que para empresas maiores gira em torno de 34% de alíquota no Brasil) de R$150.000,00 ou seja ( R$1.000.000,00 (x) 15%).
Para se chegar a esses R$150.000,00 líquidos de IR/CS precisamos de um lucro antes do IR/CS de R$227.272,72, ou seja (R$150.000,00/(1-34%)).
Supondo-se que para as operações normais da empresa, ela tenha se endividado em R$300.000,00 e que os juros cobrados pelo emprestador se situem em 12% a.a precisamos somar ao Lucro antes do Imposto de Renda/CS outros R$36.000,00 e chegar ao Lucro Operacional de R$263.272,72
Como todos nós sabemos as despesas operacionais se caracterizam por terem um comportamento fixo e assim, ao somarmos as despesas fixas de digamos R$200.000,00 ao lucro operacional chegaríamos ao lucro bruto de R$463.272,72.
Se o custo das mercadorias vendidas , representarem cerca de 60% das vendas líquidas, teremos então o valor necessário de vendas R$1.158,181,80 ou seja (R$463.272,72(/)40%) para que alcancemos o lucro necessário para remunerar o acionista de acordo com as expectativas dos mesmos.
Refazendo nossa DRE ( Demonstração de Resultado ) teríamos:
Vendas R$1.158,181,80
(-) Custo da Mercadoria Vendida -R$ 694.909,08
(=) Lucro Bruto 40% R$ 463.272,72
(-) Despesas Operacionais -R$ 200.000,00
(=) Lucro Operacional ou (Lucro antes dos juros e Imposto de Renda) EBIT R$ 263.272,72
(-) Juros -R$ 36.000,00
(=) Lucro Antes dos Impostos ( EBT) R$227.272,72
(-) Imposto de Renda/CS (34%) -R$ 77.272,72
(=) Lucro Liquido (EAT) R$150.000,00*
*Equivalente a 15% do valor investido pelo Acionista.
Resta agora saber, se nossa empresa tem capacidade produtiva e competência para vender o equivalente a R$1.158,181,80 e eficiência para controlar custos e despesas dentro dos parâmetros planejados da DRE. Mas isso é tema pra outro artigo.

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