Montar um negócio por conta própria é algo relativamente simples. Você precisa apenas de um produto ou serviço bem definido, um local que, dependendo do caso, pode ser a sua própria casa, talvez um sócio e licença para operar. De início, não dá para pensar muito, caso contrário, a empresa não sai do papel.
Na medida em que o empreendimento ganha consistência, é claro, será necessário capital de giro, treinamento intenso, um bom acordo com as operadoras de cartão de crédito e, principalmente, reforço na propaganda que começa com o método boca-a-boca. É o melhor e o mais eficiente, porém, depende da qualidade do seu produto ou serviço.
Para quem dispõe de tempo e dinheiro, o ideal é fazer um plano de negócio ou, no mínimo, desenhar o modelo de negócio para definir as questões básicas: 1) em que negócio você está? O que você realmente vende? Qual é o seu público-alvo? Qual é o seu diferencial competitivo? Assim, você terá, pelo menos, um direcionamento para suas ações.
Ainda que você tenha apenas ouvido falar de todas aquelas coisas interessantes da administração, algo do tipo planejamento estratégico, análise de tendências, BSC, matriz de portfolio, marketing de guerra e coisa e tal, de início, não é fácil aplicar todos esses conceitos.
Na prática, quando se inicia algo, nunca há recursos suficientes – tecnológicos, humanos, financeiros - para fazer tudo o que se tem mente, a menos que alguém seja suportado por ajuda familiar, sócios capitalistas, fundos de investimento, herança ou empréstimos a fundo perdido. Uma minoria.
Se não for este o seu caso, é necessário recorrer aos detalhes. O simples fato de ter dinheiro e tomar medidas baseadas em ferramentas consagradas não torna uma empresa bem-sucedida. Nunca se chega ao alinhamento ou ao sucesso definitivo. É necessário trabalhar o tempo todo para isso e não perder o objetivo de vista.
Com base nos ensinamentos de James Collins e Jerry Porras, autores do clássico Feitas para Durar, e na minha experiência com empresas de pequeno, médio e grande porte, aqui estão algumas diretrizes simples para fomentar o seu negócio:
Monte o quadro completo: o que significa isso? O fato de você admirar a Apple, a Kopenhagen, O Boticário, a Honda e tantas outras empresas deve servir apenas de estímulo, pois, elas também têm suas falhas. Alguém se importa?
Nesse caso, o que conta é o conjunto, ou seja, a abrangência e a consistência da mensagem no tempo. Lembre-se de que o segredo de uma obra de arte está nos detalhes. Questão fundamental: como você gostaria de ver a sua empresa daqui a dez, quinze ou vinte anos?
Dica: vá por partes, não tente ser tudo para todos, pense na mensagem principal do seu negócio. A Quinta Sinfonia de Beethoven é um quadro de sons, imagens, ideias, sentimentos e movimentos, construída, detalhe por detalhe.
Explore ao máximo as pequenas coisas: se você não consegue dar um carro para cada empregado como prêmio pelo seu bom desempenho anual, faça como Francis Maris Cruz, do Grupo Cometa, que estimula a leitura de um livro por mês mediante uma recompensa. Nesse caso, o funcionário ganha um 14º salário, se comprovado que leu um livro por mês durante o ano, é mole?
Se isso ainda não for possível, que tal providenciar um cartão de visita para cada funcionário da empresa. Imagine isso: Maria Carolina – Zeladora. Se isso também não for possível, o que acha de convidar os familiares de seus funcionários para conhecer a empresa no fim de semana e conceder a eles uma pequena palestra sobre o seu negócio?
Junte as peças: se você tem boa vontade, mas, não tem o conhecimento integral do negócio, convide alguém que possa complementar sua habilidade. Silvio Torres e Hugo Ito, da Link Monitoramento, foram felizes nesse sentido. Silvio entende como ninguém de monitoramento e Hugo, de tecnologia. Eles formaram a primeira empresa franqueadora de monitoramento de veículos no Brasil, sucesso absoluto. Não tenho a menor dúvida de que vão produzir muita riqueza e criar milhares de empregos.
Por que sofrer sozinho se você pode ser feliz combinando habilidades com pessoas tão capazes e sonhadoras quanto você? Mas, é necessário saber compartilhar e isso também é uma habilidade. Steve Jobs não seria nada sem Steve Wozniak. Um era complemento do outro.
Nade na sua própria corrente: o que é bom para O Boticário pode não ser bom para a Natura e vice versa; da mesma forma, o que é bom para a Apple pode ser péssimo para a Samsung, portanto, a pergunta correta deve ser essa: o que é bom para a Apple, a Samsung, a Natura e O Boticário é bom para o meu negócio?
Pés no chão, cabeça nas estrelas. Não ignore a realidade, mas, tenha cuidado e discernimento para saber até que ponto o que serviu para o sucesso de outras empresas servirá também para o sucesso da sua empresa. Em vez de perguntar “essa prática é boa”, pergunte “essa prática é adequada para o meu negócio” ou “essa prática está de acordo com os meus valores”?
Realinhe as pessoas: o negócio é seu, foi você quem criou, sofreu, suou, penou para dar inicio ao sonho, portanto, você dá o tom. O alinhamento das pessoas em relação àquilo que você deseja para o negócio é um exercício permanente de identificação e correção de desvios que depõem contra a imagem da empresa.
Se o atendimento não está bom, fale, treine, corrija, substitua, peça pelo amor de Deus. Se o leiaute do prédio está impedindo o crescimento, mude-o ou mude-se. Se a estratégia não está funcionando, dissemine mais, esclareça os pontos críticos de sucesso, tente uma nova. Como dizem os autores de Feitas para Durar, a única vaca sagrada para uma empresa visionária é a sua ideologia central. Tudo o mais pode ser mudado ou eliminado.
Os princípios são universais, os métodos não: como eu sempre digo, os princípios universais da gestão não mudam, entretanto, os métodos podem ser ajustados de acordo com o tamanho e a cultura da empresa. Coisas básicas como fluxo de caixa, orçamento, marketing, propaganda, treinamento etc. continuam obrigatórias e não se fala mais nisso.
Não importa se você é empresário, gerente, diretor-executivo, consultor ou apenas membro do conselho. Não importa se você é iniciante numa startup. Trabalhe para implementar o máximo de métodos que puder para preservar a ideologia central do seu negócio, quer seja, a visão, a missão e os valores que orientam e inspiram as pessoas em todos os níveis hierárquicos da empresa.
Por fim, seja você mesmo o arquiteto do seu próprio negócio. Crie as ferramentas, preserve o núcleo e estimule o progresso, sempre. O alinhamento consistente em relação aos pequenos detalhes fará o resto. Não basta ter um bom produto ou um bom serviço. Em negócios, o que você ignora é, geralmente, a fonte do problema e, na maioria das vezes, a origem da solução.